Segunda-feira, 8 de Novembro de 2010
Eu passei alguns anos em França, mas precisamente em Versailles junto do "Chateau".
Não se conformando com a ditadura que o país atravessava, o meu pai embarcou num barco bacalhoeiro , e ao chegar ao Canada deu o “salto”.
Manteve-se lá, durante 5 anos, sem nunca voltar a Portugal, trabalhado em vários ofícios: construção, estradas e algumas fábricas.
Cheio de saudades, após este tempo todo, voltou. Mas, mal pos o pé em território português, teve novamente a policia militar a sua espera. Foi detido, interrogado durante várias horas, mas deixaram-no ir a casa, ver a esposa e a filha, escoltado. Os dias que ele passou em casa do avô, os elementos da PIDE nunca mais saíram da porta.
Não conseguido emprego, fugiu para França ….
Estávamos novamente separados.
Após encontrar trabalho e casa neste novo país, chamou-me a mim e à minha mãe para irmos ter com ele.
Começou uma vida de emigrante. Nem tudo foi fácil, a língua diferente, o pouco ou nenhum dinheiro, costumes bem diferentes, passar da aldeia para uma grande cidade, sem família, sem amigos…
minha mãe começa a trabalhar aos dias, nas limpezas. Tenho como lembrança conhecer pessoas simpáticas e boas: Nunca senti descriminação com elas, ia o cinema com os filhos. Recordo o 1º filme e a 1ª vez que fui o cinema, com essas crianças mais ou menos da minha idade: Os Aristocratas.
Participava das rotinas da casa, nos lanches (1ª vez que eu comi fiambre, iogurte), nas brincadeiras…. Recordo-me de ter aprendido a fazer malha com um senhor da Martinica, onde a minha mãe fazia algumas horas. Penso que foi o primeiro passo para os meus "VICIOS".
O meu pai começou a trabalhar numa fábrica de fabrico de peças de alumínio para componentes de máquinas, aviões.
Mas como nós estávamos mesmo a fazer uma vida de emigrante, aproveitávamos tudo o quer era trabalho. Quando o meu pai conseguiu comprar um carro, e após o serviço, ia fazer, em conjunto com vários portugueses, serviço de táxi. Esse serviço consistia em transportar as pessoas vindas de autocarro de Portugal. Onde ele conheceu muitas gentes, e começamos também a fazer um grupo de amigos.
Nós vivíamos numas aguas furtadas de um bloco de apartamentos (5, rue de l´Orangerie), de onde, na pequena e única janela, se via uma casa enorme com um jardim, onde por vezes, eu passava horas a ver crianças a brincar, e pensava na sorte daquelas crianças….
Comecei a ir para a escola primária, aprender a língua, fazer amigas. O que mais me lembro dessa fase foi o primeiro contacto com teatro, com as roupas do faz de conta, a maquilhagem. Ir assistir a uma peça, para mim é uma festa. Interpretar e conhecer a vida e obra de Moliere. Encenamos e representamos duas peças :
- L' Avare ("O Avarento") é uma comédia em que a personagem Harpagon é um homem rico, mas terrivelmente avarento, que vive em constante pavor que roubem uma arca de ouro que enterrou no jardim…
- Malade Imaginaire ("O Doente Imaginário") Todo dia, Argan testa novos tratamentos e remédios para suas doenças imaginárias e há um médico e um farmacêutico que vivem quase que exclusivamente às suas custas. Toinette, a governanta da casa, tem certeza absoluta de que o patrão não sofre de doença alguma. Ela tenta convencê-lo de que é saudável, mas Argan insiste que é um inválido…
Fiquei chocada quando aprendi que Moliere por ser actor e encenador foi enterrado no cemitério reservado aos nados-mortos (não baptizados). Ainda assim, o enterro é realizado durante a noite, por não ter direito a uma campa num cemitério normal.
Recordo da luta (boa) para merecer “Bonpoint” que x valia uma imagem, que indicava bom comportamento nas aulas. O recreio era aproveitado para brincar á corda, ao elástico, mas sobretudo aos berlindes. Gostava tanto que as notas e os “Bonpoints” começaram a diminuir, e o meu pai escondeu-me o saco de berlindes. Mas, após vários dias de procura, encontrei-o mas só retirava alguns para ninguém dar por a falta.
Entretanto, e através de uma colega em comum, a minha mãe recebeu uma proposta de trabalho como governanta, o que deixava de andar de casa em casa, para assim trabalhar só numa, advinham em que casa?
Sim, aquela que eu sonhava entrar, do outro lado da rua.
Foi uma mudança considerável para todos nós em todos os aspectos, mudámos para a parte superior da casa: só para ter noção da diferença, foi como passar de um estúdio para um T5. O 1º andar tinha ligação para a parte onde habitava um casal de médicos com dois filhos, a minha mãe, não precisava sequer de sair a rua para ir trabalhar. Ela começou a estar mais presente na minha infância.
Foram pessoas magníficas (Monsieur e Madame Thibault), que infelizmente já faleceram., que sempre me trataram com mais uma filha, mudaram-me para uma escola particular, onde os filhos (Remy e Beatriz ) também estudavam.
Almoçávamos todos juntos. Tinha acesso á literatura (enciclopédias, dicionários) existente na casa, existia um cão de raça galgo, de nome “Vizir” que foi sempre o meu companheiro de muitos passeios e recados. Eu de patins, ele com a sua fama de corredor, fazia sucesso pelas ruas. Muitas brincadeiras foram feitas “naquele jardim”. Além de ser uma casa magnífica, estava situada perto do Chateau de Versailles e da Piece d ´eau des Suisses, onde eu passei muitas horas.
Fui então para o Lycee Sacre-Coeur, onde só andavam meninas e a responsabilidade principal estava ao cargo de freiras. Mas não eram freiras austeras, pelo contrário, brincavam connosco ao elástico, à corda, à macaca…. Tive professores, que eu guardo boas recordações, mas de outros, fujam…sobretudo de uma professora de Latim. A minha formação teve também aulas de natação e trabalhos manuais que me influenciaram para o resto da vida.
Durante estes anos frequentei a escola Sacre Coeur onde guardei algumas amizades.
Esta escola criou um site para os seus alunos, onde podemos encontrar vários colegas de carteira e contar um pouco da nossa vida.
Aproveitei para mostrar ao "mundo" alguns dos meus trabalhos maiores, e surpresa das surpresas, tenho alguns pedidos de desenhos...
A net é fantástica...torna o mundo uma aldeia...
Em questão de trabalhos, estão a ser feitos mas , fotos só após o natal....
sinto-me: